Projeto Raia, operado pela Equinor com Petrobras e Repsol, terá FPSO com tecnologia de ciclo combinado e pode mudar a matriz energética nacional até 2028
O Brasil deu mais um passo rumo à segurança energética com a construção de uma nova plataforma de gás de última geração, localizada no bloco BM-C-33 da Bacia de Campos. Chamado de Projeto Raia, o empreendimento será equipado com turbinas de ciclo combinado e deve suprir até 15% da demanda nacional de gás natural, segundo dados da Equinor.
A plataforma de gás faz parte de um esforço conjunto de empresas brasileiras e estrangeiras para transformar o país em fornecedor estratégico da região. A tecnologia embarcada inclui turbinas a gás de grande porte e sistemas de reaproveitamento de calor, garantindo maior eficiência e menores emissões de carbono — tudo isso instalado em uma unidade flutuante (FPSO) a mais de 2.900 metros de profundidade.
Parceria bilionária com operação prevista para 2028

O Projeto Raia é liderado pela norueguesa Equinor, em consórcio com Repsol Sinopec e Petrobras. O investimento total passa de US$ 9 bilhões (cerca de R$ 45 bilhões), com expectativa de início das operações em 2028. A plataforma de gás contará com turbinas aeroderivadas de 25 a 40 MW, fornecidas por empresas como GE e Siemens, permitindo geração energética na própria unidade offshore.
Parte do gás será destinado à exportação, mas ao menos metade atenderá o mercado interno, com destaque para indústrias de fertilizantes, cerâmica e geração térmica. Segundo a Petrobras, o projeto pode reduzir a necessidade de importações e baratear o gás de cozinha e a conta de luz no país.
FPSO com ciclo combinado reduz emissões em até 30%

O grande diferencial da nova plataforma de gás é o uso da tecnologia de ciclo combinado (CCGT), que combina turbinas a gás com turbinas a vapor, aproveitando o calor residual para gerar mais energia. Isso eleva a eficiência para até 60% e reduz as emissões de CO₂ em cerca de 30% em relação a plataformas convencionais.
De acordo com a Equinor, a emissão estimada da FPSO será inferior a 10 kg de CO₂ por barril equivalente de óleo produzido. A mesma tecnologia foi usada no projeto Bacalhau, também operado pela empresa. O FPSO terá ainda sistema de processamento de gás, separação de condensado e dutos submarinos integrados à malha nacional.
Raia pode transformar o setor de gás natural no Brasil
Hoje, o Brasil produz cerca de 45 milhões de m³/dia de gás, mas consome mais de 60. A entrada da nova plataforma de gás permitirá um salto relevante, com até 16 milhões de m³/dia apenas do Raia. Em um segundo momento, a meta é exportar até 30 milhões de m³/dia, inclusive para países vizinhos como a Argentina.
O projeto está alinhado à Nova Lei do Gás e ao plano de reindustrialização do governo. Além disso, a Petrobras planeja captar R$ 3 bilhões em financiamentos para projetos ligados à produção e escoamento do gás do BM-C-33, com foco em infraestrutura como gasodutos e UPGNs.
Impacto direto na economia e no emprego
Estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estimam que a cadeia de gás natural movimentará mais de R$ 500 bilhões até 2028, com geração de 44 mil empregos. A nova plataforma de gás também alimentará termelétricas e indústrias que dependem do insumo, como o setor de fertilizantes — no qual o Brasil ainda importa 90% da demanda.
No plano social, o projeto deve fortalecer polos industriais no Sudeste e no Nordeste, além de gerar vagas diretas em cidades como Macaé (RJ). Para o consumidor final, o gás mais barato pode se refletir em menor custo de energia elétrica e GLP.
Licenciamento ambiental e desafios futuros
Apesar do otimismo, o licenciamento da nova plataforma de gás enfrentou críticas. Em julho de 2025, a ministra Marina Silva alertou para “falhas no processo de avaliação”, mas o Ibama liberou a operação com condicionantes. A Equinor afirma que o projeto atende aos padrões internacionais de descarbonização e biodiversidade.
Outros desafios envolvem a burocracia, o custo da infraestrutura de escoamento e a volatilidade do mercado global de energia. Ainda assim, analistas consideram o Raia um marco na transição energética do país, combinando segurança, eficiência e menor impacto climático.
Fonte: Gás natural mais barato? Plataforma de gás da Equinor pode mudar tudo até 2028
(Publicado em 23/07/2025)